Ei, qual o sexo do seu cérebro?
“Porque nem!
Toda feiticeira é corcunda
Nem!
Toda brasileira é bunda
Meu peito não é de silicone
Eu sou mais macho
Que muito homem…”(Pagu, de Rita Lee e Zélia Duncan)
Diferenças entre homens e mulheres. Ah, como isso gera discussão! É tanta briga pra ver quem é melhor do que o outro, e nunca se chega a denominador comum nenhum! Afinal, cada lado quer mostrar que suas características próprias se sobrepõem às do outro…
Que há diferenças entre os gêneros, isso não é nenhuma novidade. E é importante conhecê-las, para que se possa melhor lidar com o sexo oposto. Tanto que existem vários livros sobre o assunto, e outros tantos, imitações deles, que no fim dizem as mesmas coisas (até eu já coloquei aqui no blog um vídeo que fala sobre isso de forma bem-humorada). Mas acho que não há dois mais conhecidos que os famosos “Homens são de Marte e mulheres são de Vênus”, de John Gray (que foi até lembrado no filme “Do que as mulheres gostam”, quando a psiquiatra com quem Mel Gibson se consulta sobre seu “problema incomum” – assista o filme pra saber qual é – diz que, se mulheres são de Vênus, ele falava venusiano) e “Por que os homens fazem sexo e as mulheres fazem amor?” do casal Allan e Barbara Pease. Este último eu quase li todo, o primeiro ainda não (mas encontrei em forma de e-book, e espero conseguir lê-lo ainda esse ano), mas posso dizer que são livros no mínimo interessantes, uma vez que falam de algo que sempre causou tanta confusão.
Existem as coisas “de homem”, sim, como também existem as coisas “de mulher”. Meu esposo, por exemplo, se vira tranqüilo com um mapa, enquanto que eu sou uma negação. Já eu choro vendo um filme triste, enquanto ele fica lá, impassível. Eu noto logo quando alguém fica chateado e pra mim o casamento é algo extremamente importante. Meu esposo não nota tão facilmente mudanças de humor, e fez faculdade na área de exatas. Típico. Porém… Ah, sempre tem um porém… Ele simplesmente odeia estacionar quando a vaga é apertada, e vai procurar outra, além de odiar assuntos como mecânica do carro e ter o nosso relacionamento como algo muito importante também; enquanto que eu adorava matemática na escola, não consigo fazer mais de uma coisa ao mesmo tempo, coisa da qual muitas mulheres se gabam, e se estou fazendo um trabalho manual, pulo etapas só para terminar mais rápido. E aí, eu sou menos mulher ou ele é menos homem por isso?
Ontem vi o twitter de um amigo que dizia que os homens são piadistas, e que as mulheres anseiam por amor, respeito e proteção, enquanto eles se contentam em ser o Bozo. Eu discordei, e na mesma hora respondi, dizendo o seguinte: “Mulheres tbm podem ser piadistas, e há vários homens que querem se sentir amados, respeitados…”
Pois é, eu fiz o teste do livro “Por que os homens fazem sexo e as mulheres fazem amor?” quatro vezes, e em três delas meu cérebro revelou-se masculino. Sim, masculino, como o do meu esposo. Achei muito interessante. Confesso que na primeira vez isso me incomodou um pouco, mas depois eu vi que era assim mesmo, e até gostei (ser diferente da maioria quase sempre é algo de que me orgulho, ou que me atrai). Realmente, eu choro em casamento, gosto de conversar com as amigas, odeio o silêncio numa discussão e me lembro de fisionomias com facilidade. Mas eu não sou daquelas que fazem drama por tudo, quase sempre se sentem carentes, tornam-se ultra-dependentes uma vez que comecem um relacionamento, são ótimas em trabalhos manuais ou conseguem fazer mil coisas de uma só vez. Eu sou racional demais, muitas vezes sou até seca, não sonho em ser mãe, não fico pedindo carinho e atenção o tempo todo, e detesto comédia romântica. Isso só pra citar algumas características… Entendam: eu não estou condenando quem age assim, apenas dizendo que existem mulheres que não agem dessa forma (como eu) e que não são menos mulheres por isso.
O livro fala que quanto mais baixa a pontuação da mulher no teste (ou seja, quanto mais próxima for daquela esperada para um cérebro masculino), maior será sua tendência para o lesbianismo. E quanto mais alta a pontuação do homem (mais próxima de um cérebro feminino), maior será a chance de ser gay¹. Porém, eu preciso dizer que os autores deste livro acreditam piamente na evolução e veem nela – além de nos hormônios (ou na falta deles) – a explicação para quase tudo que acontece nas nossas vidas. Eu não sou evolucionista, e sei que, apesar dos hormônios, enzimas e tudo mais, nos temos algo chamado raciocínio. Sim, aquilo que nos diferencia dos seres irracionais. Também sei que a mente domina nosso corpo e emoções. Não somos apenas meros objetos dominados por descargas hormonais. Eu posso até sentir vontade de comer chocolate quando estou no período pré-menstrual. Mas se não tiver em casa, eu não vou roubá-lo nem usar uma TPM como desculpa pra fazer meu marido sair de madrugada na chuva atrás de algum lugar que venda doces…
MAS! E aqui vou eu de novo com minhas conjunções adversativas… Mas, há quem pense de forma diferente dos autores deste livro. Sim, caros leitores, porque nem a Medicina nem a Psicologia são ciências exatas, e graças a Deus podemos e devemos discordar e criar novas indagações, é isso que leva às grandes descobertas. Leia, por exemplo, o que diz a revista Época de 25/03/2009:
“Você consegue saber se seu amigo está triste ou irritado só de olhar para ele? Essa é uma característica de um cérebro feminino. Mas um homem também pode ter essa sensibilidade e outros comportamentos geralmente ligados a um cérebro feminino. Isso porque a sexualidade cerebral não está ligada diretamente ao sexo do corpo. “O sexo do cérebro é determinado pela quantidade de testosterona [hormônio masculino] a que o feto fica exposto no útero. Em geral, homens recebem doses maiores do que as mulheres. Mas isso varia e nós ainda não sabemos exatamente por quê”, diz a ÉPOCA a neuropsicologista Anne Moir, da Universidade de Oxford, na Inglaterra.” ²
E apesar de essa pesquisadora também acreditar na evolução como explicação (ou seria desculpa?) para todo tipo de comportamento, seja feminino ou masculino, ela admite que o sexo do cérebro não está relacionado diretamente ao do corpo e que a quantidade de hormônios recebida no útero pode variar e nem sabe dizer o porquê…
Veja agora algo ainda mais curioso, retirado de um artigo do dr. João Modesto Filho, médico e diretor financeiro da Unimed de João Pessoa:
“De qualquer forma, esses achados [sobre diferenças entre os cérebros] estão mais ligados a aspectos estatísticos; por exemplo, se uma pessoa se submete a um dos testes que avaliam a masculinidade ou feminilidade cerebral, como o Sex ID da BBC, poderá encontrar-se em qualquer ponto entre os dois pólos. Ou seja, independentemente da orientação sexual, pode haver homens com cérebro “feminino” e mulheres com cérebro “masculino”. Nesses termos, muito do que é dito sobre masculinidade e feminilidade cerebral é mera especulação. O certo é que sobre esse tema temos mais sombras do que luzes e mais convencionalismos do que certezas.”³
Portanto a minha conclusão é: é ÓTIMO que saibamos as diferenças (pois, repito, elas existem SIM!) entre homens e mulheres, se todo mundo buscasse estudar isso – e meios é que não faltam – não haveria tantos problemas nos relacionamentos. Vamos ler mais, pesquisar na internet, que apesar de conter muito lixo também tem muita coisa boa, vamos conversar mais com o outro e tentar entendê-lo, deixando de lado nossas expectativas irreais e preconceitos, e assim seremos um tantinho mais felizes.
Agora, não podemos nem devemos estereotipar, achando que TODO homem vai ser melhor em matemática, mapas e localização, ou só vai pensar na carreira, ou sempre vai ser melhor motorista que a mulher, ou que TODA mulher vai ser melhor ouvinte, vai ser carente e vai ter TPM, ou sempre vai tirar 10 em artes. Claro, o homem é mais caladão. Claro, a mulher é mais falante. Sim, eles adoram objetos e elas gostam de gente. Os “caras” querem que você diga o quanto ele é bom no que faz, e as “minas” querem romance e diálogo. A mulher valoriza o relacionamento enquanto o homem valoriza o trabalho. Eu poderia passar o dia falando aqui sobre essas diferenças que nos completam, mas acho que essas são suficientes para me fazer entender. Conhecer esses pontos divergentes é muito bom, mas temos que lembrar que nem sempre será assim. Não podemos simplesmente encaixar a pessoa num padrão, pois cada ser humano é único. No máximo poderemos conhecer essas características e esperar encontrar pelo menos algumas delas em alguém do outro sexo. Como disse antes, isso ajuda muito num relacionamento, mas não é tudo. Temos que amar o outro pela sua singularidade e não porque se encaixa em todas as características esperadas para o seu gênero.
Outra coisa: discordo completamente do fato de que, por eu ter um cérebro masculino, minha tendência ao lesbianismo seja maior que a de outras mulheres cujo cérebro é “normal”. Eu sou muito bem casada, e muito feliz com o homem que escolhi amar e com o qual desejo passar o resto da vida. Sempre tive atração pelo sexo oposto, nunca pelo mesmo sexo. Tenho minhas características “chatinhas” de mulher, mas acho que o fato de meu cérebro pensar como o de um homem ajuda no meu relacionamento com meu esposo, em vez de atrapalhar. Acho até que fui abençoada, porque se meu cérebro fosse daqueles bem femininos, ia ser tanta briga que prefiro nem imaginar!
Não é de hoje que o evolucionismo cria desculpas para o [mau] comportamento masculino ou feminino (há um artigo MUITO BOM sobre isso aqui). Vocês não têm noção das vezes em que, pesquisando para este artigo, encontrei textos (inclusive alguns já lidos por mim no livro “Por que os homens fazem sexo e as mulheres fazem amor?”) que falam que para o homem é muito normal trair, ser promíscuo e sempre olhar para as “gostosonas”, enquanto que para a mulher é super natural jogar pratos nos maridos – isso se não fizer coisa pior – quando está na TPM. Tudo com “base” na evolução, e no “governo” dos hormônios. Só que evolução nem hormônios servem como desculpa para comportamentos errados. Não somos governados pelos hormônios, eles são apenas agentes, o que nos governa é a razão. Portanto, não caiam nessa de que os homens são legais, mas têm que trair, e que as mulheres são umas chatas, mas quando estão de TPM tudo se aceita e se perdoa. Somos criaturas feitas à imagem e semelhança de Deus, não meros robozinhos controlados por substâncias químicas. Vamos conhecer melhor a nós mesmos e uns aos outros, mas para que sejamos mais felizes, e não para criarmos uma falsa idéia de superioridade de um sexo sobre outro, ou um estereótipo em que quase ninguém se encaixa perfeitamente.
P.S.: Interessante que quando fiz o teste da Revista Época (o link está logo abaixo), bem como o da VEJA, o meu cérebro apareceu como feminino. Pra ver como essas coisas são! Aqui o link pra quem quiser fazer o do livro (está em PDF), que é mais extenso, mas vale a pena.
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¹ “Por que os homens fazem sexo e as mulheres fazem amor?” Allan e Barbara Pease, p. 58 (Ed. Sextante)
² “Qual é o sexo do seu cérebro?” – Revista Época de 25/03/2009 [http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI65446-15224,00-QUAL+E+O+SEXO+DO+SEU+CEREBRO.html]
³ “Diferenças cerebrais entre homens e mulheres”, João Modesto Filho [http://www.unimedjp.com.br/colunas/joaomodestofilho/coluna.php?id=211]