Pensamentos

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Mulher, trabalho, filhos…

Muito se falou e ainda se fala sobre a mulher que não quer ter filhos. Alguns chegam a dizer que são egoístas, que só pensam em si mesmas e por aí vai. Então, imagina-se, o que se espera de uma mulher, segundo estes, é que tenha filhos. Mas ei, alto lá. Não é só isso que se espera. Querem também que os filhos sejam limpinhos e bem-educados. Essa é a regra: você, mulher, tem que parir, e seus rebentos precisam ser anjos de candura.

E quem diz estas coisas? Aquelas que dizem que as que não querem ter filhos são egoístas. E ainda dão a receita do bolo: o negócio é você se dedicar a eles, não trabalhar pro resto da vida, porque aí terá filhos excelentes! E elas, realmente, não trabalham. Algumas podem se dar ao luxo de fazer isso, pois deram o golpe do baú têm maridos ricos, e vivem que nem dondocas, cujas únicas atividades são fazer compras, falar e ler futilidades e cuidar dos pimpolhos. Outras não têm tanta condição assim, e agem dessa forma porque creem piamente que é o melhor.

Mas o que tenho visto é exatamente o contrário. Conheço algumas mulheres (não vou dizer quem são nem como as conheci, óbvio) que não trabalham, muitas inclusive porque creem que “assim é o melhor”, quando não chegam a soltar o ridículo “é a vontade de Deus”. Tais mulheres frequentam reuniões femininas, que supostamente as ajudariam a ser melhores esposas e mães. Porém, apesar de tudo isso, algumas delas têm filhos que são verdadeiras pestes, com o perdão do termo. Crianças para as quais escovar os dentes é atividade semanal, e não diária (podem deixar cair o queixo, eu também fiquei assim quando ouvi), que dormem mais tarde que eu e que assistem programas de tv no mínimo inapropriados para suas idades.

Enquanto isso, conheço outras tantas que trabalham fora (claro que algumas têm a bênção de ter pais ou sogros por perto, mas mesmo assim…), mas que também se dedicam ao esposo e aos filhos, cujas crianças, essas sim, são educadas, estudam direitinho e são limpinhas. Ah, e só assistem programas adequados pra elas, dormindo bem cedo. Não são perfeitas, claro, mas estão a anos-luz de distância daquelas, cujas mães acreditam estarem fazendo o que Deus quer.

Minha mãe sempre trabalhou fora, e faz isso até hoje. Não só pra ajudar no orçamento, mas porque se realiza no que faz. Eu creio que a mulher, quando decide ter filhos, tem que maneirar no trabalho. Principalmente nos primeiros anos de vida da criança. Isso, inclusive, foi minha mãe que me ensinou — e fez. Mas não precisa deixar de trabalhar eternamente. O trabalho nos faz sentir úteis, é uma verdadeira terapia (quando trabalho não me concentro nos meus problemas, mas nos dos outros, que eu tenho que resolver, e isso alivia a mente, além de nos ajudar a ser menos egoístas), nos dá o sustento e nos realiza. Será que só o homem pode se sentir realizado e a mulher não?

Eu não sou feminista, como sempre falo. Também sou contra essa ideia da super-mulher: tem que ser ótima profissional, excelente mãe, esposa inigualável, e, claro, manter-se sexy 24 horas por dia. Isso é impossível. Ponto. Mas se a mulher quer se realizar fazendo algo de que gosta e ainda ganhando por isso, e quer também ser mãe, quem somos nós para impedí-la ou criticá-la? Conheço várias, imperfeitas, sim, mas que estão se saindo muito bem nas duas tarefas, enquanto que aquelas que pensam estar fazendo o melhor, por ficarem em casa, estão é prejudicando os filhos. Não todas, mas muitas sim…

A própria Bíblia fala da mulher que trabalha (e por isso que acho ridículo quando se diz que Deus não quer isso): “Examina uma propriedade e adquire-a; planta uma vinha com as rendas do seu trabalho” (Provérbios 31:16). Aqui a Bíblia fala da “mulher virtuosa”. Ela compra uma propriedade, planta uma vinha com as rendas do seu trabalho! Eu não precisaria falar mais nada, mas cito novamente Provérbios 31: “Cinge os lombos de força e fortalece os braços. Ela percebe que o seu ganho é bom; a sua lâmpada não se apaga de noite…não come o pão da preguiça” (versos 17, 18 e 27). Então, parem de usar Deus e a Bíblia como desculpas para sua falta de vontade…

E quanto àquelas que não querem ter filhos: será que são tão egoístas como se pinta? Ou mais egoísta é a mãe que tem filhos, fica o tempo todo em casa, mas não se dedica de verdade às suas crianças, que muito em breve, se a situação não mudar, tornar-se-ão insuportáveis? De nada adianta não trabalhar, mas ficar em casa sem fazer nada, “comendo o pão da preguiça” e achando que educar é igual a deixar os filhos fazerem o que querem. Melhor não ter filhos do que tê-los e deixá-los por conta própria. Isso sim é que é errado.

Socorro, estou sendo controlado!

Por Gary Chapman

Um dos meus livros é chamado de “Desperate Marriages” (algo como ‘Casamentos Desesperados’). O que é um ‘casamento desesperado’? Um casamento desesperado é aquele em que um dos indivíduos está envolvido em um estilo de vida que é extremamente prejudicial para o relacionamento — como por exemplo, abuso de álcool ou drogas, abuso verbal ou físico. Hoje eu quero falar sobre “O Cônjuge Controlador”.

Atributos de um cônjuge controlador
Os controladores têm uma personalidade dominante e, portanto, procuram dominar os seus cônjuges. Eles não são de espírito mesquinho, mas são determinados. O lado positivo de uma personalidade de controle é que essas pessoas fazem as coisas. Eles se encarregam de resolver problemas e tomar decisões.

O controlador raramente pede conselho a seu cônjuge. E, se fizer isso, ele raramente leva a sério. Ele sabe o que é melhor e se você vai escutar. Ele vai explicar-lhe “mais uma vez”, e dizer coisas como “qualquer pessoa em sã consciência vai concordar comigo.” Não é tão difícil ver porque o cônjuge de um controlador muitas vezes se sente como uma criança … que seus pensamentos, idéias e sentimentos não são importantes ou são ilógicos.

Se seu cônjuge tem uma personalidade fortemente controladora, meu palpite é que você não tem um casamento íntimo. Controladores muitas vezes “passam por cima” de seus cônjuges, a fim de fazer as coisas. O cônjuge acaba com rancor e tanto pode partir para a briga como pode se retirar em sofrimento silencioso. Nenhuma destas abordagens melhora a situação.

Concorde em discordar
Então, o que fazer se você está casado(a) com um(a) controlador(a)? Algumas pessoas capitulam. Eles procuram se realizar nas crianças, ou no seu trabalho, e simplesmente aceitam um casamento ruim. No entanto, penso que é muito mais gratificante tomar uma atitude. Eu não quero dizer discutir, quero dizer que você pode concordar com os controladores de intenções, mas não ceder às suas exigências. Sua atitude deve ser: “Eu te amo demais para permitir que você me trate como uma criança.”

Quero sugerir que você tente influenciar o seu cônjuge concordando com ele. Com isso eu quero dizer que você concorde com seus argumentos, mas não aceite as suas conclusões. Uma mulher pode dizer: “Querido, eu sei que estamos economizando dinheiro por não utilizar a secadora, mas eu não tenho tempo para pendurar a roupa no porão. Se você quiser fazer isso, ótimo, mas eu vou usar a secadora. ”

Discutir e brigar com um cônjuge controlador não leva muito longe. Você nunca vai ganhar uma discussão com um controlador, você só vai prolongar a batalha. Um resultado muito mais positivo surgirá a partir de uma gentil, mas firme recusa a ser controlado. Assuma a responsabilidade por sua própria atitude. Lembre-se, você não pode mudar um cônjuge controlador, mas você pode influenciá-lo através de suas respostas ao seu comportamento.

Uma copa, várias lições…

Já vi um monte de blogs falando sobre copa, mas eu mesma não me interessei em falar. Hoje, por incrível que pareça, dia da derrota do Brasil, me deu vontade de comentar sobre ela… E foi exatamente por causa da derrota.

É interessante como às vezes a gente aprende mais com os fracassos do que com as vitórias. Eu pelo menos aprendi hoje. Não sou o que se pode chamar de grande fã de esportes, mas em tempos de Olimpíadas e especialmente Copa do Mundo, mesmo não gostando de esportes, é claro que eu vou torcer pelo meu país. Ainda que muitas vezes não entenda nada daquele esporte, ou, no caso do futebol, ainda fique em dúvida — às vezes — de quando é escanteio (embora hoje já saiba bem mais que antes, graças ao marido kkkk).

Só que, apesar de torcer pelo Brasil, creio que todos temos que ser humildes. Quando se fala de futebol, a gente sabe que não é só o Brasil que é bom. Temos Alemanha, Argentina, Itália, França, e, claro, Holanda. Todos esses times, embora alguns tenham deixado a copa da África mais cedo, são bons. Não é só o Brasil que sabe driblar, não é só o Brasil que pode ganhar. Todo mundo pode, e isso deve gerar respeito por todas as equipes, e não uma confiança exacerbada que, creio eu, na minha ignorância de quem não entende quase nada do assunto, fez com que o Brasil ficasse mais descuidado no segundo tempo do jogo de hoje. Talvez achassem que já estavam com a partida ganha. E nós também fazemos isso. Por isso, a necessidade de aprender a reconhecer: não somos os únicos bons. E isso vale pra todas as áreas da vida.

Outra coisa: como disse Galvão Bueno (é, às vezes ele fala coisas boas hehehe), foi só mais um jogo de futebol. Podem achar que, por mal ter acabado o jogo e eu ter vindo escrever isso aqui, sou fria e nem me importo com a derrota. Pura mentira. Estou até mais chateada do que gostaria. Foi meu país ali, triste, envergonhado, poxa vida! Eu queria comemorar, mas nem ânimo pra almoçar fora tenho mais. Mas a vida continua, e continuaria mesmo que o Brasil ganhasse. Fato. A gente precisa se aprender que há coisas bem mais importantes com as quais se preocupar. Contas a pagar, relacionamentos, família, saúde, trabalho, lazer, Deus… Como está meu relacionamento com meu esposo? Como estou trabalhando, estou dando meu melhor? Será que estou tirando tempo pra descansar? E Deus, em que lugar o coloco no meu viver? Essas sim são questões verdadeiramente importantes, e a forma como lidamos com ela influenciará nossa vida agora e no futuro. Esses dilemas permanecem, com ou sem Brasil na copa…

A vida continua. Tem gente aí morrendo por causa de enchentes. A crise econômica ainda persiste em muitos lugares. As eleições vêm aí. Vão ser escolhidos governantes cujas decisões e atitudes, essas sim, terão o poder de mudar nossa vida, diferente de um jogo. Você se lembra disso?

Longe de querer irritar alguém que agora se sente arrasado, decepcionado, meu objetivo é fazer pensar (como sempre digo, vejam o nome do blog). Não só os outros, mas eu, antes de qualquer um. Ainda estou triste, mas isso passa. Haverá outras copas. Poderemos torcer novamente. E, quem sabe, ver o Brasil dar um show.

NÃO POR MUITO TEMPO! 2014 VEM AÍ. NA NOSSA CASA! #BRA 2014. A ESPERANÇA DO HEXA CONTINUA…

Inteligência ou aparência: o que realmente importa?

Bem magrinha e praticamente sem peito, Tessália turbinou os seios com 300ml de silicone. A ex-BBB justificou a mudança: “é difícil uma mulher com pouco peito ser aceita na sociedade”. Na socidade das ex-BBBs isso faz sentido… (EGO, 27/06/2010).

A notícia pode ser velha, mas eu não sabia que a justificativa usada tinha sido essa. Quer dizer que, para ser aceita, a mulher tem que ter peito. Essa foi demais! Pensei que tínhamos que ser inteligentes, educadas, trabalhadoras, esforçadas, responsáveis. Não, temos que ter peito! E não é no sentido de ter coragem, não. É ter seio grande mesmo.

Quando a gente pensa que as mulheres finalmente estão começando a ser aceitas por seu cérebro, vem uma tonta e mostra que não: a aparência continua sendo o mais importante. Afinal, quem tem que ser inteligente é o homem, mulher só tem que ter corpo né? Pra que cérebro, se quem pensa é o homem e a mulher só obedece? Isso tudo seria até engraçado se não fosse real. E pior, confirmado — e ao que parece, aceito — por uma mulher.

Sobre ter opinião…

Será que é assim que se trata alguém por ter opinião? Pra muita gente, sim...

Eu acho interessante que muita gente fala: “fulano precisa aprender a dizer não” ou “fulano precisa se impor” ou ainda “fulano tem que ter opinião e deixar de ser mosca morta”, mas quando o tal fulano passa a ter todas essas atitudes que foram solicitadas dele, os outros estranham.

Eu sempre fui muito temerosa de dizer o que penso, não gostava de falar certas coisas para certas pessoas com medo de ser mal interpretada e perder a amizade de alguém de quem eu gostasse (e isso sempre acontecia com amigos, engraçado que nunca tive medo de discordar de meus pais ou meu esposo). Me lembrei disso hoje, ao ver um twitter de alguém que sigo: “Às vezes vc deixa de expressar sua opinião, com medo que ela se choque com a opinião dos outros? Não? Nem eu… hehe”. Eu já deixei muitas vezes de falar o que penso para não “chocar” com outras opiniões. Mas eu mudei. Não pensava assim antes. Só que hoje, eu falo o que penso, sem medo de ser feliz. As outras pessoas não pagam minhas contas, não têm os meus problemas, não vivem a minha vida.

Porém, isso não é fácil. Como já citei noutro post, uma vez me deram unfollow no twitter porque eu “escrevo coisas polêmicas só para dizer que tenho opinião”. Na verdade, a pessoa fez isso porque não gostava de algumas coisas que eu dizia, por não concordar com ela (isso não foi julgamento meu, alguém ligado a essa pessoa me explicou). E é mais complicado ainda quando você tem que discordar de alguém que é próximo a você. Mas ter opinião própria não é pecado. Pensar diferente não é errado. Cada um tem o direito de ter o pensamento que quiser a respeito de determinado assunto.

Contudo, as mesmas pessoas que pensam isso te criticam ou se espantam e te repreendem quando é você o que discorda, o que se levanta perante injustiças, o que diz não, ou simplesmente o que diz o que pensa. Elas podem, você não. Peço licença a meus amados leitores para dizer: estou de saco cheio de gente assim. Eu agora não tenho mais medo do que os outros vão pensar por eu dar minha opinião. Portanto, se você quiser me dar unfollow, xingar ou deixar de ser meu amigo, fique à vontade. Sou eu que pago minhas contas e me sustento, graças ao bom Deus, e o que você pensa de mim não interessa.

Maturidade tem a ver com saber discordar com elegância, com classe. Eu também não entendia isso antes, se alguém discordava de mim já achava que a pessoa não ia com a minha cara. Mas hoje sei que não tem nada a ver, todos podemos — e devemos — ter opinião própria, e mesmo que essa opinião seja diferente da opinião do seu amigo, isso não quer dizer que você não gosta mais daquela pessoa, que vocês agora vão cortar relações ou que você tem que dar unfollow no twitter. Divergir é bom e necessário, e sábios são aqueles que fazem isso sem brigar. Não precisa ser arrogante, mas não há problema em dizer o que você pensa sobre um assunto, ainda que seja diferente do que alguns pensam. E se eles se incomodarem? Problema deles…

“Preocupe-se mais com seu caráter do que com sua reputação. Caráter é aquilo que você é, reputação é apenas o que os outros pensam que você é.” John Wooden

Vivendo e aprendendo…

Hoje o posto em que atendo esteve cheio à tarde. Numa das consultas, o paciente apresentava micose, e, como era nas mãos, pensei que seria bem melhor medicação oral que tópica (no local): imagine você o dia todo com uma meleca nas mãos! A gente usa as mãos pra quase tudo, desde comer e beber, até escrever, segurar um livro pra ler, enfim. Pensei: “isso não vai dar certo, o creme não vai durar muito nas mãos desse menino”. Mas eu sabia que no posto a medicação oral estava em falta. E se eu mandasse a mãe comprar, muito provavelmente ela não iria fazê-lo, por preço, por dificuldade de locomoção, por preguiça (creiam, isso acontece sim)… Resolvi então passar a pomada mesmo, porque teria no posto, e pelo menos ia ajudar um pouco. Mas isso tudo que eu contei pra vocês aconteceu em menos de um minuto: desde a minha dúvida inicial até a tomada da decisão do que prescrever, tudo foi como segundos, pensamentos velozes na minha cabeça. Sim, porque a gente não pode demorar quando há mais uns 20 na sala de espera. E que reclamam se você passa mais de 10 minutos com apenas um paciente…

Depois foi a vez de uma mulher com dor de ouvido. Ela já havia ido no posto por esse mesmo motivo havia algumas semanas. Passei o medicamento, mas ela não comprou (provando o que falei acima, que quando a gente passa algo que não há no posto, porque o paciente realmente precisa, eles não compram). E hoje continuava com dor, com o agravante de ter eliminado secreção pelo ouvido.

E então? Alguém aí ainda quer ser médico? É frustrante, não? Por isso, alguém pode estar pensando que não estou contente com minha profissão. Não poderia estar mais longe da verdade. Amo o que faço, não consigo me imaginar fazendo outra coisa, e me sinto feliz de poder ajudar essas pessoas, porque casos como esses que citei não são tão frequentes assim. Há aqueles que conseguem a medicação no posto (maioria), que se tratam direitinho, do jeito que você ensina, e que voltam depois dizendo que estão bem. Alguns até agradecem, e os idosos gostam muito de mim, dizem que sou muito paciente! Tem como não ficar feliz com isso? Tem como não se sentir útil ao saber que você muitas vezes é o único médico que aquelas pessoas podem consultar — já que muitas não têm dinheiro sequer para descer ao hospital — e que não precisam pagar por isso? Não. Não tem.

Mas citei os fatos do começo do post para que vocês vejam um pouco como é difícil ser médico em nosso país. Seja pelas condições de trabalho, pela situação do paciente, pela falta de vontade dele em se ajudar (o médico não faz tudo sozinho), pela incompreensão de muitos… E para que conheçam um pouco da vida de pessoas que muitas vezes não têm R$ 1,00 no bolso pra comprar uma dipirona que seja. Não, a vida não é só blog, twitter, viagens, passeios e comidas gostosas, que a gente come quando tem vontade ali no shopping. Existe muita coisa que a gente não conhece. Mas graças a Deus e à minha profissão, eu tenho aprendido e conhecido muita coisa nova e diferente das que estava acostumada (quando faço visitas domiciliares a acamados, posso ver coisas que muitos de vocês nem imaginam). E é esse um dos motivos que me fazem ter orgulho de ser médica.

Divergir sem odiar: é possível?

Hoje eu queria falar mais sobre imaturidade. Quem lê deve imaginar que sou um poço de sapiência, amadurecimento e razão. Nada mais longe da realidade. Sou ignorante pra muita coisa, imatura em muitas situações e às vezes posso fugir um pouco da razão quando discuto com alguém.

Mas eu não sou uma criança. Tenho mais de 30, e aprendi algumas coisas nessas três décadas de vida. Uma delas é que a gente tem que aprender a NÃO levar discussões pro lado pessoal, nem irritar-se com coisas de pouca importância.

Eu acho que todos têm o direito de expor seus pensamentos e opiniões, quer seja em blog, twitter ou coisa semelhante. Também defendo o direito de discordar de alguma ideia ou pensamento. Nada mais normal. Mas existe uma diferença entre discordar e irritar-se.

Imagine que o sr. Fulano de Tal adore assistir Friends. Vamos supor que eu não gostasse (mentira! hehehe). E vamos imaginar ainda que eu fosse ao twitter e enviasse o seguinte: @fulanodetal você sabia que Friends é uma droga? Só ignorantes assistem a esse seriado! E mais, você vai queimar no mármore do inferno, porque Friends é “do mal”!

Vocês acham que Fulano de Tal iria se chatear comigo? Sim, e com toda razão. Eu me dirigi a ele e o agredi — ainda que com palavras, apenas — de graça, sem motivo, sem necessidade. Não precisava disso. Porém, algo bem diferente é falar sobre coisas que estão incomodando, fazer algumas críticas ou simplesmente dar sua opinião sobre algo, mas sem se dirigir a ninguém em particular. Falar o que pensa sobre algo, mas sem direcionar a ninguém. Isso eu não acho errado. Você apenas expressou o que sente. Não o fez pra atingir ninguém, fez porque o ser humano tem essa necessidade de se expressar. De desabafar…

Mas imagine agora que eu fui ao twitter e postei que assisti Friends e não gostei. Não me dirigi a ninguém, apenas expressei minha opinião. Qualquer pessoa teria, sim, o direito de discordar, como eu citei antes. Defendo esse direito, ainda que não concorde com a opinião do outro. Mas se irritar? Chatear-se com isso? Levar pro pessoal e dar “unfollow” no Twitter?

Crendo ou não, foi isso que me aconteceu essa semana. Alguém deixou de me seguir por achar que eu “escrevo coisas polêmicas só pra dizer que tenho opinião”. E eu ainda soube que essa pessoa se “irritava” com certos tweets meus. Então me pergunto: pra que se incomodar tanto com algo que tem a ver apenas com gosto pessoal, que é igual a nariz: cada um tem o seu? Pra que se irritar tanto quando se critica algo de que você gosta? Eu não falei mal de ninguém da família dessa pessoa (que me deu unfollow), da profissão dela, do lugar onde ela mora. Mas a dor foi tamanha que parecia que eu tava amaldiçoando sua descendência até mil gerações… Gente, gosto é gosto. Tem gente que não gosta da frase, mas gosto não se discute! Não! Vale a pena se chatear com alguém por diferenças de gosto? E tem mais: quando você se irrita com alguém por uma bobagem como “o seriado preferido” ou o “estilo de música de que mais gosto”, você acaba limitando uma pessoa. É como se ela fosse só o seriado, ou a música. Ela pode ter 1001  características maravilhosas, mas como ela não gosta daquele seriado, daquele filme, ou daquela cor, ah, então ela não presta, e vou dar “unfollow”.

Eu fico me perguntando se tudo isso tivesse acontecido “na vida real”, em vez de no twitter. Como seria? A pessoa iria se irritar tanto? Como faria para me dar “unfollow”? Simplesmente ia dizer que sou doida por não gostar do mesmo que ela e iria se retirar? E desde quando todos temos que gostar das mesmas coisas? E desde quando só são legais as pessoas que gostam do mesmo que eu?

Desculpem o desabafo. Mas é que isso realmente me chateia, esse blog também é pra isso, pra eu falar do que me incomoda. Sei que vocês que leem nada tem a ver com isso (até porque quem tem nunca lerá, creio eu — infelizmente). Mas que isso sirva de lição pra todos nós: vamos aprender a discordar com elegância, sem levar pro pessoal. Quem é chique faz assim.

Lição de vida

“O velho chamou o filho e disse:
– Vá ao pasto, pegue a mulinha e apronte-se para irmos à cidade, que quero vendê-la. O menino foi e trouxe a mula. Passou-lhe a raspadeira, escovou-a e partiram os dois a pé, puxando-a pelo cabresto. Queriam que ela chegasse descansada para melhor impressionar os compradores. De repente:
– Esta é boa! – exclamou um visitante ao avistá-los.
– O animal vazio e o pobre velho a pé! Que despropósito! Será promessa, penitência ou caduquice?… E lá se foi, a rir.
O velho achou que o viajante tinha razão e ordenou ao menino:
– Puxa a mula, meu filho! Eu vou montado e assim tapo a boca do mundo. Tapar a boca do mundo, que bobagem! O velho compreendeu isso logo adiante, ao passar por um bando de lavadeiras ocupadas em bater roupa num córrego.
– Que graça! – exclamaram ela.
– O marmanjão montado com todo o sossego e o pobre do menino a pé… Há cada pai malvado por este mundo de Cristo… Credo!… O velho danou-se e, sem dizer palavra, fez sinal ao filho para que subisse à garupa.
– Quero só ver o que dizem agora… Viu logo. O Izé Biriba, estafeta do correio, cruzou com eles e exclamou:
– Que idiotas! Querem vender o animal e montam os dois de uma vez… Assim, meu velho, o que chega à cidade não é mais a mulinha; é a sobra da mulinha…
– Ele tem toda razão, meu filho; precisamos não judiar [Ah, Lobatinho fiadapu!] do animal. Eu apeio e você, que é levezinho, vai montado. Assim fizeram, e caminharam em paz um quilômetro, até o encontro dum sujeito que tirou o chapéu e saudou o pequeno respeitosamente.
– Bom dia, príncipe!
– Porque prícipe? – indagou o menino.
– É boa! Porque só príncipes andam assim de lacaio à rédea…
– Lacaio, eu? – esbravejou o velho.
– Que desaforo! Desce, desce, meu filho e carreguemos o burro às costas. Talvez isso contente o mundo… Nem assim. Um grupo de rapazes, vendo a estranha cavalgada, acudiu em tumulto com vaias:
– Hu! Hu! Olha a trempe de três burros, dois de dois pés e um de quatro! Resta saber qual dos três é o mais burro…
– Sou eu! – replicou o velho, arriando a carga.

– Sou eu, porque venho há uma hora fazendo não que quero mas o que quer o mundo. Daqui em diante, porém, farei o que manda a consciência, pouco me importando que o mundo concorde ou não. Já que vi que morre doido quem procura contentar toda gente…”
(Monteiro Lobato. Fábulas. São Paulo, Brasiliense, 1994, 7. ed. p 12 e 13.)

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Eu não preciso dizer mais nada, mas digo: lição de vida perfeita. Não tente agradar todo mundo. Nem Jesus conseguiu tal façanha. Seja feliz.

Torcedores ou marginais?

Flamengo? Coritiba? Inter? Não, não. Infeliz ou felizmente, eu não torço pra qualquer time. Nem de esporte eu gosto. Detesto assistir a jogos de futebol. Mas foi praticamente impossível não saber do que se passou ontem, e, claro, eu vou “meter o meu bedelho”.

Do que adianta bater, chutar, cuspir e até fazer sangrar o torcedor do time adversário? Isso traz o teu título de volta? Isso te impede de ter o seu time querido rebaixado? Não! Não muda nada, exceto que você vai fazer muita gente chegar em casa estropiado, isso quando chegam.

Outra coisa: se o seu time ganhou, se é hexa, hepta, octacampeão que seja, vamos comemorar né? E não brigar no meio da rua, e pasmem: com gente que torce pro mesmíssimo time que você. Não tem uma palavra melhor pra definir isso, então fico com: ridículo.

Por isso que não gosto de futebol. O que acontece ou deixa de acontecer não muda minha vida, não resolve meus problemas e eles também não pagam meu salário. Perda de tempo total. E, em alguns casos, infelizmente, perda de saúde, ou até de vida!

A religião ecológica

A causa ecológica, sempre preocupada com hábitos do velho homem, assegura que nosso planeta não passa de 2030. Resta somente repetir os versos de uma canção dos anos 80: É o fim da aventura humana na Terra. Uma das razões é o aquecimento gradual do sol, ex-amigo dos seres viventes. Banho de sol, nem pensar, mocinha. Fique só com aquela outra canção sobre um banho de lua para ficar branca como a neve!

Tirem as crianças do sol, deixem as crianças na sala! O sol agora pode causar doenças terríveis como alegria, prazer e vitamina D, coisas opostas a esse mundo que mergulha em depressão e neurose ecológica.

Não vá sair agora para o sol do meio-dia, melhor evitá-lo entre 10 da manhã e 3 da tarde. Claro que tomar sol em excesso pode causar câncer. Mas, diga aí, o que nesse mundo já não causa câncer? Veja também as estatísticas de morte no trânsito e pergunte quantos andam pensando seriamente em largar o volante. É completamente cabível abdicar de refrigerante e de certos programas de TV que também engordam e matam como colesterol ruim. Mas é descabido querer fugir do sol como se fôssemos dráculas.

Uma coisa é cuidar da saúde física e mental, buscar uma alimentação balanceada e diminuir o uso de impressão em papel quando possível. Outra bem diferente é não usar spray de cabelo porque isso contribui para o aumento do buraco nas camadas atmosféricas ou evitar o sol em qualquer hora, quesitos que adotei involuntariamente já que não tenho cabelos e moro sob o céu nublado de Curitiba.

Tem gente que fica à procura de uma paranoia pra viver, como aquela dos maçons-empresários que controlam o mundo como titereiros ou a dos capitalistas que enviam mensagens subliminares irresistíveis para dominar as mentes. Isso tudo é raia miúda perto do surto que conquista cada vez mais adeptos, a psicose da saúde do homem e da Terra.
O cinema também encampou essa ideia: documentários e documentiras anunciam ao mundo que nosso lar está se acabando e é bom aproveitar as belas imagens de savanas povoadas de zebras e leões antes que o tempo se vá. Personalidades, como Al Gore e Leonardo di Caprio, e filmes, como Home Earth, repetem que o oceano está subindo, a temperatura mundial está subindo, a fumaça está sempre subindo. Alguém duvida de que a bilheteria de filmes do tipo também está subindo? Por falta de uma ideologia melhorzinha, essa turma aderiu à causa ECOmênica, uma bandeira interreligiosa e suprapartidária. Bandeira não, um guarda-chuva ou guarda-sol que agrega gregos e baianos, antigos comunistas devoradores de criancinhas e novos capitalistas devoradores de almas, padres, pastores e presidentes, BBBs e budistas. Não duvide se Osama rimar com Obama para ser a solução da boa vontade entre os homens filhos de Gaia. Todos culpando a feia fumaça que apaga as estrelas e os flatos bovinos, equinos e muares.

Quando vejo uma multidão tão diversificada agindo de forma tão unânime por uma causa tão mundial, desconfio. Gente muito unânime só aprova credos e partidos que juntam seus trapinhos de diferença ideológica por uma causa salvacionista. Se você pensou em religião ecológica, acertou. De manifestantes que se atiram feito mártires na frente de tratores e navios a notícias sobre um apocalipse ambiental, a religião ECOmênica ganha predominância no altar das causas planetárias. O ECOmenismo ganha adeptos de todas as cores ideológicas e religiosas, pois converter-se a essa causa equivale à luta apaixonante pela sobrevivência da humanidade.

Afinal, quem em sã consciência pode renunciar à defesa da vida? Nada contra defender a vida e cuidar da natureza. É necessário sempre esclarecer sobre o ciclo da vida natural da qual fazemos parte. Reciclar, reutilizar, preservar são itens importantes que devem estar na nossa agenda. Não questiono também as evidências do aquecimento global, só desconfio da “verdade científica” que cerca o debate que um dia foi ambiental e hoje é item da agenda do poder político. O problema é que a questão climática ganhou um selo de autoridade “científico” inquestionável. A mídia pouco dada a investigações chancela a questão ecológica. Surgem ainda informações manipuladas a fim de criar uma consciência global, que resultam na criação dos dias mundiais sem isso ou sem aquilo (sem carro, sem TV, sem luz elétrica por uma hora). Curioso como esses tais dias mundiais exercem um fascínio nos países mais desenvolvidos. Principalmente na Europa, que fecha a cara para os imigrantes mas acena alegre para ursos e pinguins.

Joêzer Mendonça

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